Celebração religiosa só foi possível porque o sacerdote foi excomungado da Igreja Católica pela Arquidiocese de Bauru, cidade do interior de São Paulo, há três anos, mas fundou a região Humanidade Livre.
Uma cerimônia religiosa para marcar a união homoafetiva de um casal, está marcada para o próximo dia 08 de abril, no espaço Café La Music, na Praia dos Coqueiros, em Trancoso, distrito de Porto Seguro (distante a 722 km de Salvador, na Costa do Descobrimento).
A celebração terá à frente Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como Padre Beto, excomungado em 2013 pela Igreja Católica da Diocese de Bauru (SP). Este será o segundo de casamento homoafetivo que ele fará em Trancoso.
As noivas – Ana Luíza (29 anos) e Bárbara (30 anos) são naturais de MG, mas escolheram Trancoso para celebrarem a união. A empresária Ana Luíza conheceu Trancoso e se apaixonou pelo lugar. Agora tem planos de fixar residência com sua companheira, a educadora física Bárbara, em Trancoso. Elas se conheceram pela internet, e possuem um relacionamento estável há dois anos. As bênçãos será dada pelo padre Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como Padre Beto.
Padre Beto foi excomungado em abril de 2013 pela Diocese de Bauru (SP), após divulgar vídeos na internet onde defendia temas polêmicos, como a união entre homossexuais, fidelidade e necessidade de mudanças na estrutura da Igreja Católica. Após a excomunhão, A partir ele fundou a religião Humanidade Livre. O padre excomungado já realizou casamentos entre pessoas do mesmo sexo em Jaú (SP), em Belém (PA), em Vitória (ES) em São Sebastião do Paraíso (MG) em Recife (PE) e neste sábado (08) volta a Trancoso (BA) para mais uma celebração.
“Eu não consigo ver impedimento neste tipo de união. Onde há amor entre as pessoas, Deus só pode estar presente. Eu acredito que as pessoas que são católicas, não gostariam de um pastor ou um mestre espírita, então eu me tornei uma alternativa. Apesar de ser excomungado e não ir a nome da Igreja Católica, eu sou um padre, continuo vivendo como tal e a mensagem que eu procuro transmitir é uma mensagem cristã que se aproxima muito de quem é católico. Então eu acho que isso vai de encontro com a necessidade deles”, explica o sacerdote.
História
Padre Beto, de 51 anos, se formou em Teologia e realizou seu doutorado na área na Alemanha. O sacerdote afirma que quando entrou para o seminário a igreja era mais liberal. “Quando entrei para o seminário, tínhamos uma igreja fundamentada na teoria da libertação, com uma tinha uma característica que permitia o debate, principalmente com a Comunidade. Mas ela mudou muito e foi se fechando”, explicou.
O padre afirma sempre ter tido uma atitude de confrontação para tentar entender os equívocos da Igreja Católica. “Eu sempre estive aberto para discutir questões sobre viciadas dos jovens, o divórcio e a homossexualidade que são coisas presentes na humanidade, mas comecei a incomodar o bispo da época”, conta.
Coagido a pedir perdão
O padre teria sido coagido a pedir perdão por aceitar relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. “Como eu posso pedir perdão se eu acho que temos que discutir problemas que a igreja tem? Acho que temos que discutir com o povo de Deus. Eu me recusei a pedir perdão e fui excomungado”, lembra.
Após deixar a igreja, o padre começou a celebrar a união de pessoas divorciadas e, principalmente, de pessoas do mesmo sexo. “Eu acredito no princípio do amor ao próximo. O homossexual só se realiza se ele viver sua opção sexual. Ele ama, e pode ter um casamento feliz vivendo com o mesmo sexo. Se a igreja não aceita isso, ela está pecando porque vai contra o amor ao próximo”, diz.
QUEM É PADRE BETO
Padre Beto (Roberto Francisco Daniel), bauruense, nascido em 1965. Formado em Radialismo (SENAC-SP), em Direito pela Instituição Toledo de Ensino (Bauru), em História pela Universidade do Sagrado Coração (Bauru) e em Teologia pela Universidade Estadual Ludwig-Maximilian de Munique, Alemanha. Nesta última concluiu seu doutorado em Ética. Foi ordenado Padre pela Igreja Católica em Bauru no ano de 1998.
Exerceu o ministério de sacerdote na Diocese de Bauru por 14 anos. Professor de Filosofia da Faculdade de Direito (ITE), professor de Filosofia nos Cursos de Direito, Administração e Magistério da Unip-Bauru. Ministrou aulas de Filosofia para o ensino médio e cursinhos. Em 2013, foi excomungado por ter refletido livremente sobre a moral sexual cristã. Hoje, à frente da Igreja Humanidade Livre sediada em Bauru (SP), continua a pregar o amor sem preconceito de raça, orientação sexual ou estilo de vida.
Atualmente é cronista de vários jornais no estado de São Paulo. Autor de diversos livros sendo dois em língua alemã e sete em português. Em 2013 recebeu o Prêmio “Rio Sem Preconceito”, que homenageia personalidades que de alguma forma contribuíram na luta contra a discriminação no país. Em 2017 ganhou o troféu “Triangulo Rosa” concedido pelo Grupo Gay da Bahia.
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